Pituba acuada: bando fardado faz arrastão na Paulo VI e medo domina ruas do bairro
Bairro de classe média, cheio de escolas, bancos e restaurantes, a Pituba virou um espaço onde os assaltantes atuam com desenvoltura
Avenida Paulo VI, Pituba, 10h40 de ontem. A pé, um
grupo formado por 12 pessoas – dez adolescentes, sendo sete meninas e
três meninos, e dois homens adultos –, a maioria usando fardas de
escolas públicas, abordou e roubou cinco estudantes do Colégio Estadual
Rapahel Serravale.
Minutos depois do
roubo, nove celulares, 13 relógios e cinco bonés já estavam sendo
partilhados entre os ladrões diante do Shopping Iguatemi. Todos foram
flagrados por policiais militares que estavam com duas das vítimas na
viatura, buscando os suspeitos.

“Colocamos as vítimas na viatura e fomos atrás do
grupo. Uma das vítimas, que já tinha ido embora, ligou para o celular da
colega que estava conosco e disse que viu o grupo em frente ao
Iguatemi”, contou um soldado da 13ª Companhia Independente da PM.
Os objetos foram recuperados e os dez menores foram
apreendidos e levados para a Delegacia do Adolescente Infrator (DAI),
onde prestaram depoimentos. Nenhuma arma foi encontrada com o grupo, que
teve alguns membros reconhecidos pelas vítimas.
Pela quantidade de objetos recuperados, a polícia
suspeita que o grupo realizou outros roubos antes e depois de abordar os
estudantes. Até a noite de ontem, não foi confirmado se os menores
seriam encaminhados à Fundação da Criança e do Adolescente (Fundac) ou
liberados. Os dois adultos foram autuados por roubo na Central de
Flagrantes.
Rotina
O que ocorreu ontem numa das principais vias da Pituba não é raro. No bairro, a maior parte dos assaltos, arrombamentos de veículos e pequenos furtos – principal tipo de crime registrado no bairro, segundo a Polícia Militar – é praticada por menores.
O que ocorreu ontem numa das principais vias da Pituba não é raro. No bairro, a maior parte dos assaltos, arrombamentos de veículos e pequenos furtos – principal tipo de crime registrado no bairro, segundo a Polícia Militar – é praticada por menores.
“São adolescentes e, quando chegam na DAI, são
soltos, porque eles não podem ser presos”, disse o capitão Garrido, da
13ª CIPM. O delegado Nilton Tormes, titular da 16ª Delegacia, discorda
quanto a quantidade de menores nos roubos. “Existe a participação
significativa de menores, mas não chega a ser a maior parte. O que
percebemos é que a participação das mulheres tem aumentado”, afirmou
ele.

Mesmo com sistema de câmeras, restaurante na Manoel Dias já foi arrombado seis vezes apenas este ano
Tormes, entretanto, também aponta o problema da
rápida liberação dos assaltantes. “O pessoal que assalta os estudantes,
por exemplo, pegamos no mês passado e foram soltos no dia seguinte”.
Medo
“Eu peço a Deus para guardar a minha vida e de minhas colegas. É roubo toda hora, muito assalto”, contou uma funcionária de um salão de beleza na Rua Artur Gomes de Carvalho, onde, anteontem, a tentativa de roubo de um carro resultou na troca de tiros entre o assaltante e a vítima, o policial rodoviário federal aposentado Roberto Marques, 57.
“Eu peço a Deus para guardar a minha vida e de minhas colegas. É roubo toda hora, muito assalto”, contou uma funcionária de um salão de beleza na Rua Artur Gomes de Carvalho, onde, anteontem, a tentativa de roubo de um carro resultou na troca de tiros entre o assaltante e a vítima, o policial rodoviário federal aposentado Roberto Marques, 57.
A secretária do lar Vitória Alves, 60, que mora na
Rua Miguel Navarro Y Cañizares, afirma que a sensação de insegurança é
constante. “Quando dá 18h, eu já fico assustada. Tem vários funcionários
do prédio que já foram assaltados e os alunos do colégio (Oficina)
também são roubados na rua mesmo”, disse. A informação foi confirmada
por seguranças da escola.
Para o verdureiro Alexandre de Oliveira, que
trabalha há cinco meses em uma banca na Rua Miguel Navarro Y Cañizares,
é a certeza da impunidade que faz com que os assaltos se repitam. “Pior
é que a viatura até passa, mas os caras não se intimidam. É a certeza
da impunidade”.

Cerca elétrica no teto é nova tentativa de inibir ação de invasores
Alexandre lembrou que na última semana ouviu uma
mulher pedindo por socorro depois de ter a bolsa roubada, por volta das
19h, por um homem que estava em um carro. Ele citou também o caso do
vendedor Elisvaldo Conceição de Oliveira, de 36 anos, que foi executado
no dia 23 de setembro numa banca de frutas e verduras da Rua Ceará.
As mortes violentas criminosas, porém, não são o
principal problema do bairro. De 1º de janeiro a 15 de outubro deste
ano, de acordo com a Secretaria da Segurança Pública (SSP), foram
registrados seis Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI) na
Pituba, entre homicídios dolosos, roubos seguidos de morte (latrocínio)
e lesões corporais seguidas de morte. No mesmo período do ano passado,
foram quatro CVLIs.
Prevenção
Para o pesquisador Carlos Costa Gomes, do Observatório de Segurança Pública da Bahia (Unifacs), a solução a curto prazo para diminuir a sensação de insegurança da população é melhorar o policiamento preventivo.
Para o pesquisador Carlos Costa Gomes, do Observatório de Segurança Pública da Bahia (Unifacs), a solução a curto prazo para diminuir a sensação de insegurança da população é melhorar o policiamento preventivo.
Comentando o envolvimento de menores em assaltos,
Costa Gomes lembra que é necessário o cumprimento de todos os pontos do
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), mas vê problemas na
estrutura para receber os adolescente infratores.
“Nós não temos lugares para que eles sejam
recolhidos, nem temos delegacias suficientes. Eles só voltam para a rua
se não tiverem um local. Então, se ele volta para a rua, é um risco para
ele também”.

Loja na Avenida Manoel Dias da Silva já foi invadida pela porta principal e pelo vão do segundo pavimento
Segundo Costa Gomes, o retorno às ruas é um sinal do
descumprimento do ECA. “Eu defendo até a redução da maioridade penal
como uma forma de proteção”.
Conselho de Segurança atua na prevenção
Em março deste ano foi criado o Conselho Comunitário de Segurança Pública da Pituba. A entidade conta com a participação de 16 entidades, incluindo a 13ª Companhia Independente da Polícia Militar e a Paróquia Nossa Senhora da Luz. Segundo a presidente do Conselho, Carmen Angélica Santana, da Associação dos Amigos da Lagoa dos Patos (Asalp), o principal objetivo do grupo é a prevenção. “A gente tem apontado dicas de segurança, porque a população tem que se prevenir”. Após a criação do Conselho, segundo Angélica, houve uma redução de cerca de 30% no número de ocorrências no bairro.
Em março deste ano foi criado o Conselho Comunitário de Segurança Pública da Pituba. A entidade conta com a participação de 16 entidades, incluindo a 13ª Companhia Independente da Polícia Militar e a Paróquia Nossa Senhora da Luz. Segundo a presidente do Conselho, Carmen Angélica Santana, da Associação dos Amigos da Lagoa dos Patos (Asalp), o principal objetivo do grupo é a prevenção. “A gente tem apontado dicas de segurança, porque a população tem que se prevenir”. Após a criação do Conselho, segundo Angélica, houve uma redução de cerca de 30% no número de ocorrências no bairro.
Ainda assim, ela diz que os assaltos, pequenos
furtos e roubos de veículos são comuns no bairro. De janeiro a junho
deste ano, a Área de Segurança (Aisp) 16, da Pituba, foi a oitava com
maior número de roubos e furtos a veículos – 207.
Para o Capitão Heroney, da 13ª CIPM, a participação
da população nas reuniões do Conselho, que acontecem a cada 15 dias, é
importante, mas tem sido baixa. “O Comando da Unidade tem envidado
forças desde o ano passado e mais ainda este ano, com o Conselho, mas a
população tem participado pouco”, cobrou.
Bandidos abusam dos arrombamentos noturnos
Gil Santos e Aline Damazio
Gil Santos e Aline Damazio
Eles entram na madrugada e levam tudo que for
possível. Os arrombadores noturnos têm atormentado comerciantes da
Avenida Manoel Dias da Silva. Os invasores nem ligam para as câmeras de
vigilância e até já sabem o tempo médio que a polícia demora para chegar
após o alarme ser acionado.
Ontem, o CORREIO visitou dez estabelecimentos
comerciais na Manoel Dias e apenas uma deles ainda não foi alvo de
arrombamentos ou assaltos. A maior parte adotou sistemas de segurança
próprios, contratou seguranças ou vive de portões trancados, mesmo
quando eles estão funcionando.
“Só este ano foram seis arrombamentos e duas
tentativas de arrombamento aqui. Os bandidos já entraram pelo
basculante, pelos fundos e pelo banheiro. A tática agora é entrar pelo
teto”, contou o gerente do restaurante Quinta Avenida, Fernando Moreira.
Segundo ele, os ladrões levaram dinheiro, computadores, tíquetes e até
uma balança. O prejuízo estimado é de R$ 40 mil. Além disso, o gerente
informou que já foram investidos cerca de R$ 15 mil em sistemas de
vigilância, alarmes e cercas elétricas.
“Quando entram, eles destroem tudo. Precisei trocar
as duas mesas do escritório, porque, tentando arrombar as gavetas, eles
destruíram. Já perdemos quatro notebooks”. Ontem, técnicos instalavam
alarmes na cobertura e cercas elétricas no telhado do restaurante, que
funciona há 23 anos no local.
Segundo o gerente Fernando Moreira, há cerca de um
ano, o problema dos arrombamentos começou a aumentar. Os capitães
Garrido e Heroney, da 13ª CIPM, reconheceram que os arrombamentos têm
sido mais constantes que os assaltos na região.
PM da área tem três carros e três motos
A 13ª CIPM (Pituba) tem efetivo de 158 policiais, que se revezam em turnos e contam com três carros e três motos para as rondas. “Além disso, são realizadas operações com o apoio da Rondesp, do Esquadrão de Motociclistas Águia e da Operação Apolo”, informou a PM, em nota.
A 13ª CIPM (Pituba) tem efetivo de 158 policiais, que se revezam em turnos e contam com três carros e três motos para as rondas. “Além disso, são realizadas operações com o apoio da Rondesp, do Esquadrão de Motociclistas Águia e da Operação Apolo”, informou a PM, em nota.
Apesar disso, policiais militares dizem não ser
“onipresentes”. Após um prejuízo de R$ 7 mil em produtos roubados e o
investimento de mais R$ 6 mil em segurança, a empresária Janete Santos,
46, decidiu fazer um abaixo-assinado entre os comerciantes da Avenida
Manoel Dias da Silva para pedir uma audiência com o titular da SSP,
Maurício Barbosa.
Na Manoel Dias, comerciantes chegaram a dizer que
policiais da 13ª CIPM oferecem serviços particulares de segurança em
troca de dinheiro. “Um deles perguntou se eu não tinha interesse em
segurança particular. Ele disse que se eu ‘colaborasse’, ele poderia dar
uma atenção especial aqui”, afirmou um empresário.
Em nota, a assessoria de comunicação da PM informou
que não há registro na Ouvidoria de denúncias sobre a conduta de
policiais da 13ª CIPM. Os canais de denúncia são: telefone 162.
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