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Soldado Luciano Fiúza morreu ontem à noite o Hospital Aeroporto
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O
soldado da PM Luciano Fiuza, 29 anos, morreu, ontem à noite, no
Hospital Aeroporto, dois dias depois de passar mal durante um exame
físico do Curso de Operações Policiais Especiais (Copes), porta de entrada para o Batalhão da Polícia de Choque da Polícia Militar.
Ele,
que era lotado no 12º Batalhão (Camaçari), é o segundo policial a
morrer, dos quatro que foram internados após uma atividade chamada Teste
de Habilidade Específica (THE), que exigiu que os 67 candidatos
corressem 10 km em 60 minutos, no Batalhão de Choque, em Lauro de
Freitas. Na corrida, eles usavam calça do fardamento e coturno. A
primeira morte, do soldado Manoel dos Reis Freitas Júnior, aconteceu na
terça-feira, também no Hospital Aeroporto. Manoel era lotado na 4ª CIPM,
em Macaúbas, na Chapada.
Segundo informações da Polícia
Militar, outros dois policiais continuavam internados ontem. O tenente
Joserrise Mesquita de Barros, 30 anos, lotado na Cipe-Cerrado, estava
em estado grave, porém estável, no Hospital Aeroporto. Já o soldado
Paulo David Capinam, 26, lotado na 81ª CIPM, em Itinga, havia deixado a
UTI do Hospital São Rafael na terça-feira e tinha previsão de alta
hospitalar ainda ontem.
Explicações
Após
a morte do soldado Fiúza, a Polícia Militar enviou, às 21h12, apenas
uma nota de pesar sobre o falecimento. Mais cedo em outro comunicado, a
Polícia Militar afirmou que o soldado Freitas, segundo a avaliação
médica, “apresentou quadro de insuficiência renal, sendo acometido por
uma parada cardíaca”.
O exame não é motivador da morte. A Polícia Militar tem preocupação de tomar todos os cuidados e ações preventivas
Capitão Marcelo Pitta, diretor de Comunicação da PM
Mas segundo a tia de Freitas, Maria das Neves, que
criou o sobrinho desde que ele era criança, de prenome Regina, não sabia
explicar o motivo da morte. “Ela disse que não conseguia explicar o
motivo por que um rapaz jovem foi tendo convulsões e paradas, uma atrás
da outra, de rim, fígado, pulmão, coração”, afirmou a tia de Freitas. A
reportagem do CORREIO não conseguiu contato com o Hospital Aeroporto.
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Soldado Freitas havia morrido na terça-feira. Ele e Fiuza passaram mal durante curso de Operações Especiais
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“Pedimos
uma rigorosa apuração. A perícia vai ser fundamental para dizer se
eles tomaram algum tipo de medicação ou substância para melhorar o
condicionamento físico. Depois vamos emitir um parecer e, se for o
caso, mudar a forma de ingresso nas Forças Especiais”, afirmou o
secretário da Segurança Pública, Mauricio Barbosa, à rádio CBN.
O
diretor de comunicação da Polícia Militar baiana, capitão Marcelo
Pitta, afirmou que o treinamento não deve ser considerado como causador
da morte. “O treinamento não é o motivador para a causa da morte. A PM
tem uma preocupação de tomar todos os cuidados e uma série de ações
preventivas, inclusive de só começar com uma equipe médica presente”,
disse ele, garantindo que havia médicos no local.
Pitta
acrescentou que, antes de participar do curso, os candidatos a ingressar
no Batalhão de Choque se voluntariam e são obrigados a apresentar uma
bateria de exames e um laudo que atestem aptidão a participar do
processo. Além disso, passam por uma análise de uma Junta Médica Militar
e só então são liberados.
Ainda de acordo com a Polícia
Militar, o THE inclui a corrida de 10 km, transposição de muro, subida
no cabo vertical, transporte de carga, deslocamento em meio líquido,
flutuação uniformizado e apneia na água. Contudo, no dia da atividade só
foi realizada a corrida de 10 km.
Em nota, a PM informou que um
Inquérito Policial Militar (IPM) foi instaurado para apurar a morte de
Freitas. O resultado, segundo o capitão Marcelo Pitta, deve sair em 30
dias. Segundo a assessoria do IML, o laudo da morte de Freitas deve sair
entre 15 e 30 dias.O presidente da Associação dos Policiais e Bombeiros
e de seus Familiares do Estado da Bahia (Aspra), vereador Soldado
Prisco (PSDB), afirmou que entrará com uma representação no Ministério
Público para pedir apuração do caso.
IML
Ontem
pela manhã, no Instituto Médico-Legal Nina Rodrigues (IML), o irmão de
Manoel Freitas, o motorista Tony Moreno, 33 anos, disse que a equipe
médica chegou a cogitar que Freitas houvesse ingerido alguma substância,
mas o exame toxicológico de urina foi normal. “Eu não conheço nada
dessas substâncias (suplementos físicos) e tenho certeza que ele também
não conhecia”.
Natural de Valença, o soldado Freitas entrou há
dois anos, para a PM e foi trabalhar na 4ª CIPM (Macaúbas). Há um mês,
começou a se preparar para o Copes e, há cinco dias, pediu licença para
se preparar para o teste que fez na segunda. O sepultamento está
previsto para hoje, no cemitério de Valença. Ele será sepultado com
honras militares. Colaborou Gil Santos.
Exército tem programa que alerta para excesso de esforço físicoO
Exército mantém há quatro anos o Programa de Prevenção e Controle de
Rabdomiólise Induzida por Esforço Físico e pelo Calor. A doença é
caracterizada por danos à musculatura esquelética. Quando há um
rompimento dessa musculatura, partículas caem na corrente sanguínea e
acabam causando infecções e lesões nos rins, além e arritmias cardíacas,
podendo levar à morte. Segundo o Exército, “há uma forte relação entre a
Rabdomiólise e a atividade intensa e prolongada a que são submetidos os
militares durante algumas instruções ou exercícios físicos”.
Os
objetivos propostos foram: “Conscientizar os militares para o problema;
mostrar a importância do incentivo à hidratação durante as atividades
físicas (especialmente em condições climáticas severas) e orientar para
que não sejam utilizados complementos alimentares sem um acompanhamento
médico ou de um nutricionista”.
Segundo o capitão Pitta, os
policiais têm acesso a uma cartilha de prevenção das Forças Armadas. Ele
também disse que havia três postos de hidratação durante a prova. O
médico nefrologista Marco Antônio Silveira, presidente da Sociedade
Brasileira de Nefrologia, Seccional Bahia, afirmou que atividades
físicas muito intensas podem levar a um quadro como o do soldado: “Uma
série de atividades de esforço intenso, convulsão, pode levar e essa
lesão muscular, o que pode levar a uma redução da função renal”.
O
educador físico Julião Castello disse que casos de Rabdomiólise são
comuns nas Forças Armadas. “O organismo é uma máquina perfeita, mas, em
estado de exaustão, diversos órgãos entram em disfunção”, explicou. Em
março de 2012, um aspirante a PM morreu durante o Teste de Aptidão
Física (TAF), no Bonfim.
Ailton Lopes Pessoa, 29, não conseguiu
completar a prova no primeiro dia. Na segunda chance, no dia seguinte,
caiu ao chão depois de percorrer 2,4 Km metros em 13 minutos. Ao chegar
ao banheiro, desmaiou e morreu após duas paradas cardíacas. Em 2009, o
aspirante da PM Uelber Costa do Sacramento morreu em Jequié na piscina
onde era feito o teste, durante treino de mergulho.