sábado, 15 de agosto de 2015

Bandido bom, é bandido morto...

"Que prendesse. Pra que tirar a vida?", reclama moradora após morte de assaltantes em ônibus

Dupla foi morta por passageiro durante assalto na av. Paralela. Somente em Salvador foram 1.309 assaltos desde o início do ano
15/08/2015 13:59:46
É como se os papéis  tivessem se invertido: o assaltante chega de arma em punho, anuncia o assalto, leva os pertences das vítimas. A maioria entrega tudo, ainda temerosa de que o bandido atire a qualquer momento. De repente, são ouvidos disparos, mas quem cai baleado é o assaltante.
Nos últimos quatro dias, cenas como essa, que ilustram reações a assaltos,  se repetiram três vezes em Salvador. O caso mais recente foi na sexta-feira (14), por volta das 8h30, na Avenida Paralela.
Peritos e agentes da Polícia Civil trabalham na remoção de corpo de assaltante. Comparsa caiu morto nas escadas do coletivo. Passageiros recuperaram pertences. Atirador fugiu (Foto: Marina Silva)
Demerson Santos Silva e o comparsa dele, identificado como Paulo Henrique, foram mortos por um passageiro após saquearem um ônibus da BTU, que faz a linha entre a localidade de Arembepe, em Camaçari, e o Terminal da França.
Segundo informações da Operação Gêmeos da Polícia Militar, os ladrões entraram no coletivo se passando por passageiros e anunciaram o assalto logo após o ônibus sair da Estação Mussurunga com cerca de 40 pessoas em direção à Rodoviária.
Na ação, Demerson  ameaçou os passageiros com uma pistola, enquanto o comparsa dele, Paulo Henrique, fez a coleta de celulares, carteiras e outros objetos de valor. Quando a dupla terminou o saque, o motorista foi obrigado a parar o coletivo próximo a uma passarela, na altura do Bairro da Paz.
Um passageiro, ainda não identificado, reagiu e atirou contra os dois, que morreram no local. Os tiros provocaram pânico, mas nenhuma testemunha ficou ferida na ação. De acordo com a polícia, Paulo Henrique morreu ainda dentro do ônibus.
Viaturas da Operação Gêmeos, da Polícia Militar, isolam área próxima a ônibus onde bandidos foram mortos
(Foto: Marina Silva)
Ele tinha 12 marcas de perfurações em várias partes do corpo. Já Demerson foi atingido por seis tiros quando estava na escada de saída do coletivo. Ele caiu morto já na pista. Ambos faleceram antes de receberem socorro médico.
Atirador
Uma equipe da Operação Gêmeos, comandada pelo tenente Fabrício Carlos, esteve no local, mas não localizou o atirador. Segundo o delegado Alberto Schramm, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), depois dos tiros, os passageiros pegaram seus pertences e saíram do coletivo.
Alguns chegaram a passar por cima dos corpos. A polícia ainda não tem pistas de quem seria o passageiro que reagiu ao assalto. “Foi alguém que presenciou o fato e tentou defender a sociedade”, disse Schramm.
Moradores
Segundo o perito Marcos Mouzinho, do Departamento de Polícia Técnica (DPT), Paulo Henrique e Demerson usavam duas bermudas, uma por cima da outra. “Isso é comum. Eles fazem isso para quando deixarem a cena do crime dispensarem uma das peças e não serem identificados”, aponta.
Ao saber das mortes,  alguns moradores da região se revoltaram. Segundo a polícia, os assaltantes moravam no Bairro da Paz. A população ameaçou fazer um protesto. “Pra que atirar neles? Eles entram na casa dos outros e quebram tudo”, disse um dos moradores, apontando para os policiais.
Mulher é amparada por policial civil, enquanto reconhece corpos(Foto: Marina Silva)
“Se ele foi roubar, que prendesse ele. Pra que tirar a vida dos meninos?”, reclamou outra moradora. Após o crime, o ônibus foi isolado para o trabalho de perícia pelo DPT. Os corpos foram encaminhados para o Instituto Médico Legal Nina Rodrigues.
O caso será investigado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), mas ainda não tinha sido distribuído até o final da tarde de ontem.
ASSALTOS A ÔNIBUS COM REAÇÕES 
12/11/2014 - O policial militar Claudemir Lima de Almeida, 38 anos, reagiu a um assalto dentro de um ônibus em Pernambués e matou o assaltante Josemário Santos Nascimento. Houve troca de tiros quando o coletivo passava próximo à Madeireira Brotas. O assaltante ainda conseguiu acertar a cabeça do policial, de raspão. No tiroteio, o motorista do ônibus foi atingido nas costas, um passageiro no antebraço e outro na mão direita.
11/12/2014 - O policial militar Diogo Santos Freire, 29 anos, morreu ao reagir a um assalto a ônibus no Vale de Nazaré. Ele não estava em serviço no momento. Quando revidou, um dos assaltantes atirou e fugiu em seguida. No mesmo dia, a PM abordou dois suspeitos no Pau da Lima. Um deles reagiu e foi morto. O outro confessou participação no assalto, mas negou ter atirado no policial.
22/1/2015 - Um passageiro reagiu a um assalto dentro de um ônibus que fazia a linha Estação Mussurunga/Barra 1 e matou um dos assaltantes. De acordo com a polícia, dois homens entraram no coletivo assim que ele saiu do transbordo e anunciaram o assalto quando passava na altura do Wet’n Wild, no sentido Rodoviária. O outro assaltante acabou fugindo sem conseguir levar nenhum dos pertences dos passageiros.
28/5/2015  - Um passageiro atirou contra assaltantes dentro de um ônibus que fazia a linha Ribeira/Vale dos Lagos. Um dos assaltantes morreu. O caso aconteceu na Paralela, no início da manhã. Quando o trio descia do coletivo após o saque, um passageiro reagiu e conseguiu atingir  os três. Um deles morreu ainda nos degraus do ônibus. Os outros dois fugiram por um matagal, mas foram presos.
Estatística
Somente este ano, até 30 de junho, a Secretaria da Segurança Pública  (SSP-BA) registrou 107 roubos a coletivos na Área Integrada de Segurança Pública (Aisp 12/Itapuã). É a quarta área com o maior número de assaltos a coletivos, ficando atrás apenas das Aisps de Tancredo Neves (283), São Caetano (160) e Periperi (141).
Ao todo, são 16 áreas integradas. Somente na capital, foram 1.309 assaltos. O diretor de Imprensa do Sindicato dos Rodoviários da Bahia, Daniel Mota, queixou-se da exposição dos profissionais nessas situações. Diretores passavam pelo local quando notaram o tumulto.
“A gente encontrou a equipe de trabalhadores em pânico, principalmente o cobrador. Era visível a cara de apavorado, querendo sair dali a todo custo”, relatou.
Temor
Segundo Mota, o número de assaltos e os casos de violência têm deixado a categoria em alerta. “O pânico é grande e isso nos preocupa muito. Acendeu o farol amarelo. Só o estampido de uma arma dessa é muito apavorante num espaço tão minúsculo”, comentou.
Ele também pediu que as imagens de câmeras de segurança sejam usadas para ajudar nas prisões. O diretor de Relações Sindicais do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Salvador (Setps), Jorge Castro, disse que sempre disponibiliza as imagens de câmeras quando solicitadas pela polícia.
Reações na Boca do Rio e Piatã deixaram um morto e dois feridos | Thiago Freire
Além da reação ao assalto na Avenida Paralela, outros dois casos do tipo terminaram com pessoas baleadas e atiradores sem identificação, em Piatã e na Boca do Rio, esta semana. No primeiro caso, uma dupla de assaltantes foi surpreendida e baleada em um restaurante.
No segundo, a polícia trabalha com duas versões. Em uma delas, a vítima de um assalto teria reagido - uma transeunte foi atingida por uma bala perdida. Anteontem, Gabriel Amarilton Bento Costa, 17 anos, e Gessé de Souza Oliveira, 19, sofreram disparos de arma de fogo após assaltar cerca de 30 pessoas em uma churrascaria em Piatã.
Os dois foram socorridos pela Polícia Militar, mas Gabriel morreu a caminho do Hospital Geral Menandro Faria. Gessé continua internado no local. Segundo o delegado ACM Santos, titular da 12ª Delegacia (Itapuã), Gessé portava um revólver calibre 38.
Gabriel vestia a farda de uma escola estadual, mas, segundo a Secretaria da Educação (SEC), ele não estava matriculado na rede. Na Boca do Rio, Adilson Ferreira Santos, 18, e um adolescente de 16 assaltaram um transeunte na Rua Hélio Machado, na manhã de terça-feira.
Houve tiroteio  e a professora Rosilene Carvalho dos Santos, 41, foi vítima de bala perdida. Ela foi liberada do Hospital Geral do Estado na tarde do mesmo dia. A polícia ainda investiga o ocorrido. Uma possibilidade é que um dos assaltantes tenha atirado.
Testemunhas contaram que a vítima do assalto foi quem atirou. A delegada Rogéria Araújo, da 9ª Delegacia (Boca do Rio), investiga o caso e admite as duas possibilidades.
Além de Adilson e o adolescente, Marcelo Soares Albuquerque Filho, 21, também foi preso. Segundo a polícia, foi Marcelo que disponibilizou as armas encontradas com os assaltantes, um revólver 38 e outro calibre 32, além de seis munições. Ele responderá por corrupção de menores. 
Detector de metais inibe assaltos em vans entre Feira e S. Estêvão
Depois de 29 assaltos em seis meses, os motoristas de vans que fazem o transporte entre Santo Estêvão e Feira de Santana, no Centro Norte do estado, decidiram buscar uma solução. Em julho do ano passado, implantaram detectores de metais e câmeras de segurança nos terminais de subida de passageiros e tiveram êxito.
Segundo Edmundo Gomes, presidente da Associação dos Condutores de Veículos Rodoviários de Santo Estêvão (Ascaverse), a decisão veio depois de muitos apelos ao poder público, que não solucionou o problema. “A gente dava queixa na delegacia, polícia rodoviária, fizemos audiência pública. Ninguém fazia o que deveria fazer”, lamenta.
Os assaltantes costumavam entrar nas vans como passageiros. Após passarem do posto da Polícia Rodoviária Estadual, anunciavam o assalto. A estrutura, presente nos dois municípios, consiste de um portal detector de metais com grades em volta.
“Vi um (portal) no aeroporto e tentei fazer parecido”, conta. Os portais custam R$ 800 por mês para a associação. Após a implantação, apenas um assalto foi registrado, em junho. “Ele passou por baixo das correntes, mas colocaremos grades”, avisa Edmundo. Segundo o presidente da Ascaverse, 46 vans fazem o percurso de 37 km, transportando cerca de 600 pessoas por dia.

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