"Que prendesse. Pra que tirar a vida?", reclama moradora após morte de assaltantes em ônibus
Dupla foi morta por passageiro durante assalto na av. Paralela. Somente em Salvador foram 1.309 assaltos desde o início do ano
É como se os papéis tivessem se invertido: o
assaltante chega de arma em punho, anuncia o assalto, leva os pertences
das vítimas. A maioria entrega tudo, ainda temerosa de que o bandido
atire a qualquer momento. De repente, são ouvidos disparos, mas quem cai
baleado é o assaltante.
Nos últimos quatro dias, cenas como essa, que ilustram reações a assaltos, se repetiram três vezes em Salvador. O caso mais recente foi na sexta-feira (14), por volta das 8h30, na Avenida Paralela.
Peritos
e agentes da Polícia Civil trabalham na remoção de corpo de assaltante.
Comparsa caiu morto nas escadas do coletivo. Passageiros recuperaram
pertences. Atirador fugiu (Foto: Marina Silva)
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Demerson
Santos Silva e o comparsa dele, identificado como Paulo Henrique, foram
mortos por um passageiro após saquearem um ônibus da BTU, que faz a
linha entre a localidade de Arembepe, em Camaçari, e o Terminal da
França.
Segundo informações da Operação Gêmeos da Polícia
Militar, os ladrões entraram no coletivo se passando por passageiros e
anunciaram o assalto logo após o ônibus sair da Estação Mussurunga com
cerca de 40 pessoas em direção à Rodoviária.
Na ação, Demerson ameaçou os passageiros com uma
pistola, enquanto o comparsa dele, Paulo Henrique, fez a coleta de
celulares, carteiras e outros objetos de valor. Quando a dupla terminou o
saque, o motorista foi obrigado a parar o coletivo próximo a uma
passarela, na altura do Bairro da Paz.
Um passageiro, ainda não identificado, reagiu e
atirou contra os dois, que morreram no local. Os tiros provocaram
pânico, mas nenhuma testemunha ficou ferida na ação. De acordo com a
polícia, Paulo Henrique morreu ainda dentro do ônibus.
Viaturas da Operação Gêmeos, da Polícia Militar, isolam área próxima a ônibus onde bandidos foram mortos
(Foto: Marina Silva) |
Ele
tinha 12 marcas de perfurações em várias partes do corpo. Já Demerson
foi atingido por seis tiros quando estava na escada de saída do
coletivo. Ele caiu morto já na pista. Ambos faleceram antes de receberem
socorro médico.
Atirador
Uma equipe da Operação Gêmeos, comandada pelo
tenente Fabrício Carlos, esteve no local, mas não localizou o atirador.
Segundo o delegado Alberto Schramm, do Departamento de Homicídios e
Proteção à Pessoa (DHPP), depois dos tiros, os passageiros pegaram seus
pertences e saíram do coletivo.
Alguns chegaram a passar por cima dos corpos. A
polícia ainda não tem pistas de quem seria o passageiro que reagiu ao
assalto. “Foi alguém que presenciou o fato e tentou defender a
sociedade”, disse Schramm.
Moradores
Segundo o perito Marcos Mouzinho, do Departamento de
Polícia Técnica (DPT), Paulo Henrique e Demerson usavam duas bermudas,
uma por cima da outra. “Isso é comum. Eles fazem isso para quando
deixarem a cena do crime dispensarem uma das peças e não serem
identificados”, aponta.
Ao saber das mortes, alguns moradores da região se
revoltaram. Segundo a polícia, os assaltantes moravam no Bairro da Paz. A
população ameaçou fazer um protesto. “Pra que atirar neles? Eles entram
na casa dos outros e quebram tudo”, disse um dos moradores, apontando
para os policiais.
Mulher é amparada por policial civil, enquanto reconhece corpos(Foto: Marina Silva)
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“Se
ele foi roubar, que prendesse ele. Pra que tirar a vida dos meninos?”,
reclamou outra moradora. Após o crime, o ônibus foi isolado para o
trabalho de perícia pelo DPT. Os corpos foram encaminhados para o
Instituto Médico Legal Nina Rodrigues.
O caso será investigado pelo Departamento de
Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), mas ainda não tinha sido
distribuído até o final da tarde de ontem.
ASSALTOS A ÔNIBUS COM REAÇÕES
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12/11/2014
- O policial militar Claudemir Lima de Almeida, 38 anos, reagiu a um
assalto dentro de um ônibus em Pernambués e matou o assaltante Josemário
Santos Nascimento. Houve troca de tiros quando o coletivo passava
próximo à Madeireira Brotas. O assaltante ainda conseguiu acertar a
cabeça do policial, de raspão. No tiroteio, o motorista do ônibus foi
atingido nas costas, um passageiro no antebraço e outro na mão direita.
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11/12/2014
- O policial militar Diogo Santos Freire, 29 anos, morreu ao reagir a
um assalto a ônibus no Vale de Nazaré. Ele não estava em serviço no
momento. Quando revidou, um dos assaltantes atirou e fugiu em seguida.
No mesmo dia, a PM abordou dois suspeitos no Pau da Lima. Um deles
reagiu e foi morto. O outro confessou participação no assalto, mas negou
ter atirado no policial.
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22/1/2015
- Um passageiro reagiu a um assalto dentro de um ônibus que fazia a
linha Estação Mussurunga/Barra 1 e matou um dos assaltantes. De acordo
com a polícia, dois homens entraram no coletivo assim que ele saiu do
transbordo e anunciaram o assalto quando passava na altura do Wet’n
Wild, no sentido Rodoviária. O outro assaltante acabou fugindo sem
conseguir levar nenhum dos pertences dos passageiros.
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28/5/2015
- Um passageiro atirou contra assaltantes dentro de um ônibus que
fazia a linha Ribeira/Vale dos Lagos. Um dos assaltantes morreu. O caso
aconteceu na Paralela, no início da manhã. Quando o trio descia do
coletivo após o saque, um passageiro reagiu e conseguiu atingir os
três. Um deles morreu ainda nos degraus do ônibus. Os outros dois
fugiram por um matagal, mas foram presos.
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Estatística
Somente este ano, até 30 de junho, a Secretaria da
Segurança Pública (SSP-BA) registrou 107 roubos a coletivos na Área
Integrada de Segurança Pública (Aisp 12/Itapuã). É a quarta área com o
maior número de assaltos a coletivos, ficando atrás apenas das Aisps de
Tancredo Neves (283), São Caetano (160) e Periperi (141).
Ao todo, são 16 áreas integradas. Somente na
capital, foram 1.309 assaltos. O diretor de Imprensa do Sindicato dos
Rodoviários da Bahia, Daniel Mota, queixou-se da exposição dos
profissionais nessas situações. Diretores passavam pelo local quando
notaram o tumulto.
“A gente encontrou a equipe de trabalhadores em
pânico, principalmente o cobrador. Era visível a cara de apavorado,
querendo sair dali a todo custo”, relatou.
Temor
Segundo Mota, o número de assaltos e os casos de
violência têm deixado a categoria em alerta. “O pânico é grande e isso
nos preocupa muito. Acendeu o farol amarelo. Só o estampido de uma arma
dessa é muito apavorante num espaço tão minúsculo”, comentou.
Ele também pediu que as imagens de câmeras de
segurança sejam usadas para ajudar nas prisões. O diretor de Relações
Sindicais do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de
Salvador (Setps), Jorge Castro, disse que sempre disponibiliza as
imagens de câmeras quando solicitadas pela polícia.
Reações na Boca do Rio e Piatã deixaram um morto e dois feridos | Thiago Freire
Além da reação ao assalto na Avenida Paralela,
outros dois casos do tipo terminaram com pessoas baleadas e atiradores
sem identificação, em Piatã e na Boca do Rio, esta semana. No primeiro
caso, uma dupla de assaltantes foi surpreendida e baleada em um
restaurante.
No segundo, a polícia trabalha com duas versões. Em
uma delas, a vítima de um assalto teria reagido - uma transeunte foi
atingida por uma bala perdida. Anteontem, Gabriel Amarilton Bento Costa,
17 anos, e Gessé de Souza Oliveira, 19, sofreram disparos de arma de
fogo após assaltar cerca de 30 pessoas em uma churrascaria em Piatã.
Os dois foram socorridos pela Polícia Militar, mas
Gabriel morreu a caminho do Hospital Geral Menandro Faria. Gessé
continua internado no local. Segundo o delegado ACM Santos, titular da
12ª Delegacia (Itapuã), Gessé portava um revólver calibre 38.
Gabriel vestia a farda de uma escola estadual, mas,
segundo a Secretaria da Educação (SEC), ele não estava matriculado na
rede. Na Boca do Rio, Adilson Ferreira Santos, 18, e um adolescente de
16 assaltaram um transeunte na Rua Hélio Machado, na manhã de
terça-feira.
Houve tiroteio e a professora Rosilene Carvalho dos
Santos, 41, foi vítima de bala perdida. Ela foi liberada do Hospital
Geral do Estado na tarde do mesmo dia. A polícia ainda investiga o
ocorrido. Uma possibilidade é que um dos assaltantes tenha atirado.
Testemunhas contaram que a vítima do assalto foi
quem atirou. A delegada Rogéria Araújo, da 9ª Delegacia (Boca do Rio),
investiga o caso e admite as duas possibilidades.
Além de Adilson e o adolescente, Marcelo Soares
Albuquerque Filho, 21, também foi preso. Segundo a polícia, foi Marcelo
que disponibilizou as armas encontradas com os assaltantes, um revólver
38 e outro calibre 32, além de seis munições. Ele responderá por
corrupção de menores.
Detector de metais inibe assaltos em vans entre Feira e S. Estêvão
Depois de 29 assaltos em seis meses, os motoristas
de vans que fazem o transporte entre Santo Estêvão e Feira de Santana,
no Centro Norte do estado, decidiram buscar uma solução. Em julho do ano
passado, implantaram detectores de metais e câmeras de segurança nos
terminais de subida de passageiros e tiveram êxito.
Segundo Edmundo Gomes, presidente da Associação dos
Condutores de Veículos Rodoviários de Santo Estêvão (Ascaverse), a
decisão veio depois de muitos apelos ao poder público, que não
solucionou o problema. “A gente dava queixa na delegacia, polícia
rodoviária, fizemos audiência pública. Ninguém fazia o que deveria
fazer”, lamenta.
Os assaltantes costumavam entrar nas vans como
passageiros. Após passarem do posto da Polícia Rodoviária Estadual,
anunciavam o assalto. A estrutura, presente nos dois municípios,
consiste de um portal detector de metais com grades em volta.
“Vi um (portal) no aeroporto e tentei fazer
parecido”, conta. Os portais custam R$ 800 por mês para a
associação. Após a implantação, apenas um assalto foi registrado, em
junho. “Ele passou por baixo das correntes, mas colocaremos grades”,
avisa Edmundo. Segundo o presidente da Ascaverse, 46 vans fazem o
percurso de 37 km, transportando cerca de 600 pessoas por dia.
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